sábado, 6 de julho de 2013

Ultra Trail Serra da Freita

Ultra Trail Serra da Freita
2ªf - Treino de 40’, com sessão de reforço muscular.
3ªf - Treino lento de 45’.
4ªf - Treino lento de 45’.
5ªf - Treino lento de 40’.
6ªf - Treino lento de 30’, seguido de viagem até Arouca para participar no Ultra Trail da Serra da Freita, prova com 70 kms e um desnível positivo de cerca de 4.000m.
Sábado - A noite foi em branco devido ao ruído que o vento provocava, pelo que foi com alegria que chegaram as 4h30, hora prevista para começar a preparar-me para a prova. Tudo decorreu dentro da normalidade habitual, com partida às 5h30. A forma como encarei o Ultra Trail da Serra da Freita (UTSF) foi sempre o de realizar um treino e desfrutar das magníficas paisagens que a zona oferece. A prioridade era chegar ao fim, sem qualquer lesão. Como tal, posiciono-me bastante mais atrás do que o habitual, causando alguma estranheza a muitos companheiros. Começa a prova já com o dia a nascer, sem necessidade de se utilizar o frontal. Os primeiros quilómetros são fáceis de percorrer, embora já com algumas paisagens que demonstram a beleza e a rudeza da Serra da Freita. Vou continuando a ouvir comentários sobre o ritmo que levo e a posição no pelotão, mas continuo sem forçar, simplesmente sentindo a montanha. Uma primeira descida que pensei que seria já para uma primeira passagem no rio, embora fosse apenas um falso alarme. Finalmente, já quase com 20 quilómetros, chegamos ao rio Paivô e a uma primeira passagem muito técnica. Foco-me no meu objectivo e reduzo o ritmo, de forma a não correr tantos riscos. Enquanto a progressão se faz saltando entre pedras secas, vou mantendo um ritmo constante, mas quando é feita dentro do leito do rio, decido abrandar. Escorrego e mergulho, imerso até ao pescoço, recordo-me que levo o telemóvel no camelbak e penso que é desta que me vou despedir dele. Não paro para verificar, o mal já estava feito. Depois do rio, chego ao 1º abastecimento, em Covelo de Paivô. Após a necessária hidratação e alimentação, dou início a uma grande subida, em que vejo eólicas no horizonte. Sei que terei que subir até lá. A experiência já me vai dizendo que sempre que chegamos a um local de realização de uma prova e vemos eólicas, quer dizer que o percurso inevitavelmente passará por lá… A subida é dura, intercalando terrenos técnicos com outros onde é possível correr. O calor começa a tornar-se verdadeiramente abrasador. Chego ao 2º abastecimento, ao km 28, na aldeia de Drave, completamente cravada na serra. Continua o percurso e nova descida ao rio, seguida de um subida muito dura, que parece não ter fim. Começo a acusar o cansaço muscular dispendido, pois o terreno é muito técnico o que exige um esforço muscular tremendo. Agradeço a opção de ter começado com um ritmo bastante baixo. Nesta fase, vou completamente sozinho, não vejo ninguém, a serra é só minha. Chegando ao topo da serra, oiço o telemóvel tocar. Fico completamente surpreendido, nunca pensei que teria sobrevivido ao mergulho. Oiço algumas palavras de incentivo do meu grande amigo António Antunes, que me diz que não há informações nenhumas, pois em cerca de 90% do percurso não há rede, incluindo no Parque de Campismo do Merujal, local de partida e chegada da prova. Continuo até ao 3ª abastecimento, perto do quilómetro 40. Tenho fome e sede. Ataco uma mini gelada na água de uma fonte, reponho a água no camelbak, água da fonte, que manterá a temperatura durante muito tempo. Preocupo-me em ingerir alimentos salgados, sei que perdi muito sódio através da transpiração, a minha camisola já começa a ficar esbranquiçada. Resolvo fazer uma paragem maior para abastecer bem e descansar um pouco. Junta-se muita gente no abastecimento. Sigo, e um pouco mais à frente confronto-me com o Trilho da Besta. Tinha visto fotos e tinha-me preparado psicologicamente para o ultrapassar. É um trilho muito longo em que os membros superiores são tão importantes quanto os inferiores. É duro, muito duro, mas agradeço a frescura, pois estamos a progredir por uma zona de vegetação muito densa, escalando calhau após calhau, por vezes com ajuda de cordas previamente colocadas pela organização. Não tenho dificuldade de maior em ir progredindo, quase sempre à custa do esforço dos braços e tronco superior. A cada metro agradeço o reforço muscular que faço e me permite continuar num bom ritmo. Após a chegada ao topo, uma descida longuíssima, de vários quilómetros, quase sempre muito técnica e com grande inclinação. Sinto gradualmente os músculos a recuperarem e sempre que possível vou correndo e saltando, embora sem forçar muito. O objectivo inicial mantém-se no meu pensamento: chegar sem lesões. Paro no abastecimento de Manhouce, o 4º, onde abasteço e hidrato-me bem. Pouco depois passo a formar um trio com o Mark Monteiro e o Sérgio Pereira. O Mark já o conhecia de provas anteriores, o Sérgio foi uma agradável surpresa. E lá fomos progredindo os 3, correndo sempre que possível, mas com longas etapas em caminhada, sempre que o terreno era muito técnico ou as subidas muito fortes. O percurso entre o abastecimento de Manhouce e o da Lomba (o 5º por volta do quilómetro 59), para mim, é a parte mais dura, com nova descida ao rio, percurso ao longo do seu leito e terrenos muito técnicos. Levava o camelbak cheio, com 2 litros de água, do abastecimento de Manhouce, e mesmo assim fiquei sem água antes do abastecimento da Lomba. O calor era verdadeiramente insuportável. Chegado ao abastecimento da Lomba, nova paragem prolongada, com nova mini a acompanhar uma bifana no pão. Avisam-nos de que vem uma subida enorme. Confirma-se, é uma subida muito longa, mas não é tão inclinada quanto algumas que ultrapassámos anteriormente. A progressão é lenta, mas constante. Faço contas e prevejo chegar ao fim com cerca de 15h. Chegamos ao último abastecimento, por volta do quilómetro 65, em Castanheira. Aqui a grande preocupação é a hidratação, começa a cheirar a meta, falta apenas um obstáculo significativo, o famoso PR7. Saímos do abastecimento e mantemos um ritmo constante de progressão, primeiro com a descida já no PR7, com vista para a fantástica Frecha da Mizarela, e depois com a subida final. O PR7 não me pareceu assim tão duro para a fama que tem; a sua principal dificuldade é estar no final da prova, em que a degradação muscular já é muito grande. Após a conclusão do PR7, começamos a correr a um ritmo bastante elevado, atendendo à fase adiantada da prova, chegando à meta após 14h44m, sem qualquer lesão. Objectivo cumprido!

O UTSF é a prova mais técnica em Portugal continental. É uma prova muito dura, agravada pelo calor que se verificou. Chegaram à meta, dentro do tempo limite, apenas 138 atletas, dos 272 inscritos. É um desafio, numa paisagem lindíssima, mas que, na minha opinião, se destina a pessoas que tenham alguma experiência e um certo à vontade na montanha. Passa por zonas de muito pouca acessibilidade (algumas em que me parece que a única forma de evacuar um atleta será de helicóptero) e sem rede telefónica, pelo que um atleta tem que ter uma grande capacidade de autonomia. Depois de chegar ao fim, concluí que a minha opção tinha sido a mais correcta (para mim, claro); não é uma prova onde eu vá competir, mas penso regressar com a mesma abordagem de desfrutar da serra e da sua paisagem.
Classificação: 68º
Tempo: 14h44m19s
Dados do meu garmin (ficou sem bateria aos 66 quilómetros):
- desnível positivo: 3.440 m
- desnível negativo: 3.480 m
Domingo - Regresso a casa

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